quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Coisas que não aprendi

       Recentemente descobri que uma amiga de décadas não sabia andar de bicicleta. Só fiquei sabendo porque ela resolveu aprender e estava feliz da vida com sua nova conquista. Vários pensamentos povoaram minha mente: “Como, em tantos anos de amizade, eu não sabia esse detalhe? Como alguém pode chegar à idade adulta, ter filhos adolescentes e não saber andar de bicicleta?”. Percebi que nunca saímos juntas para andar de bike. Não demorou muito pra que eu passasse destas perguntas iniciais para outras, mais pessoais e talvez inquietantes. “Será que em minha vida existem coisas que eu já deveria saber e ainda não sei? O que eu já deveria ter aprendido e ainda não aprendi?”
Um problema que encontramos quando fazemos perguntas sinceras é que as respostas começam a aparecer, uma a uma, sinalizando que a lista pode ser grande, bem maior do que gostaríamos!  Como mãe de dois filhos jovens morando longe de casa, descobri que não aprendi a amenizar a saudade. Sei que eles estão bem e preparados para os desafios, mas o buraco continua aqui, cheio de lembranças dos anos que se foram. Nem as muitas atividades dos dias e semanas conseguem preencher a saudade dos “meus bebês”... 
Descobri também que tenho dificuldade em reconhecer e lidar com meus reais sentimentos, principalmente aqueles que julgo não serem tão bons ou positivos. Talvez eu precise aprender a não racionalizar tanto e simplesmente dizer: “Estou triste”; “estou chateada”; “estou brava”; “estou com saudades” – e tudo bem em me sentir assim!
Não gostei muito de descobrir que nem sempre falo a verdade. Não que eu minta, mas, com medo de magoar as pessoas, deixo de dizer o que penso, me calo. Em vez de construir pontes mantenho alguns abismos. Será que consigo aprender a “falar a verdade em amor”?  Ah, para encerrar a lista de hoje (não é maravilhoso viver um dia de cada vez?), também não aprendi a dizer não. Na verdade, digo não para mim mesma, para o tempo em família, para demandas internas. Reconheço que parece mais difícil falar não para os de fora, para os compromissos “inadiáveis”, para a agenda cheia de atividades. Preciso aprender.  Aprender. Que palavra desafiadora! Quanta esperança traz em seu conteúdo! Lembro-me da reação do meu filho caçula, quando eu disse que faria pós-graduação: “Mãe, você já sabe tanto... pra que aprender mais?”. Acho que ele não vê a hora de terminar os estudos e ficar livre desse tipo de aprendizado.
Quero muito aprender as coisas que ainda não aprendi. Quero acreditar que ainda há tempo, que não é tarde demais! Existe uma idade em que já saberemos tudo, em que não teremos mais nada a aprender? Acho que não. Aprender é verbo contínuo, que nasce no coração sedento por vida, por mais, por alegria genuína. Muitas vezes tenho ouvido meu marido pedir: “Deus, nos dê um coração ensinável”. Eu digo amém, preciso desse tipo de coração!  Minha querida amiga, em suas lições para andar de bicicleta, levou tombos, teve ferimentos, precisou parar por uns dias e se recuperar da queda. Mas prosseguiu, perseverou e hoje desfruta da alegria e da liberdade do seu novo e significativo aprendizado.

• Elayne Cruz Manzano Reyes é enfermeira e missionária em Asas de Socorro. Mora em Manaus, AM, e atua no Projeto Âncora de cuidado a líderes. É casada com Marco e mãe de Giovana, Samuel e André.