quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Chupeta para adultos

             A infantilização não é metáfora, é produto.  Todas as vezes que ouvi falar sobre a infantilização dos adultos (entre essas vezes a polêmica do bebe reborn) achei que estavam exagerando e usando de figuras de linguagem para provocar alguma reflexão.  Pois bem, pasmem, não eram, era literal. Agora tem adultos usando chupeta. 

O argumento oficial? Alivio para ansiedade e estresse. A chupeta virou "Pacifier para adultos", com design ergonômico, silicone de luxo e preços que variam de 8 reais a 300 reais. A industria vende como terapia portatil, as rede sociais como identidade. E o mundo compra.

A psicanálise explica com palavras bonitas: regressão fase oral, resgate da segurança da infância. Mas a verdade nua e crua é que estamos diante de uma sociedade que não sabe mais lidar com o desconforto da vida adulta. Que troca a coragem de enfrentar a própria ansiedade pela simulação de colo em forma de borracha.  E não é só sobre chupeta, é sobre a lógica que a sustenta: quanto mais frágil for o adulto, mais o mercado para adultos trabalha para os manter assim. O risco dentário? as piadas? as criticas? tudo irrelevante, porque o "vídeo fofinho" no feed é mais importante que a pergunta incomoda: em que momento desaprendemos a amadurecer?

A infantilização não é mais um comportamento isolado. É tendência global, com marketing, logística e nota fiscal. E quando o símbolo do nosso tempo é algo que, um dia juramos abandonar... talvez seja a hora de parar de sugar plástico e começar a morder a realidade.


Baseado no texto de Willians Fiori, do Hospital Israelita Albert Einstein